O ensino remoto, a pandemia e a educação do faz de conta

Por sindoif

Segundo os dados do recente censo escolar, o Brasil tem cerca de 2,1 milhões de estudantes matriculados no terceiro ano do ensino médio. Destes, 1,8 milhão estão em escolas públicas. Isto significa dizer que a educação pública é responsável por mais de 85% dos alunos que estão finalizando o ensino médio no país.

Há que se reconhecer a existência de uma grande desigualdade entre os alunos de escolas públicas e particulares, acentuada pela redução significativa de investimentos públicos em educação nos últimos anos – em especial por conta dos cortes propiciados pela Emenda Constitucional nº 95/2016. E a pandemia Covid-19 tende a incrementar essa desigualdade, assim como a distância no aprendizado entre os estudantes mais vulneráveis de escolas públicas e os demais.

Com as escolas fechadas desde meados de março, as secretarias estaduais de educação têm de lidar com a montagem de novas plataformas de aprendizagem, professores sem formação para o trabalho remoto, estudantes que não têm computadores, ou outro equipamento em casa, e a falta de acesso à internet na casa de estudantes e até de professores.

Segundo levantamento sobre ensino remoto feito pela Secretaria Estadual de Educação de SP, cerca de 44% dos estudantes da rede pública no estado ainda não acessaram, uma única vez, a plataforma online disponibilizada para vídeo-aulas. Sobre os demais 56%, sabe-se que acessaram a plataforma pelo menos uma vez, sem que se tenha maiores informações sobre eventual realização de atividades, e seus resultados, ou mesmo sobre frequência de acessos.

Segundo o Prof. Daniel Cara, integrante da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e docente da Faculdade de Educação da USP, “as redes podem fingir que estão ensinando, mas os alunos não vão fingir que estão aprendendo“. 

Sem qualquer planejamento e carente de recursos para implantar a infraestrutura mínima necessária para garantir o acesso de estudantes as tecnologias de educação à distância, ao discurso gerencialista, tão presente em muitas instituições de ensino, se soma o discurso voluntarista de quem defende “fazer alguma coisa” neste momento de isolamento e pandemia. Segundo o docente da UFABC e também integrante da Campanha Nacional de Educação Pública, Prof. Fernando Cássio, “as desigualdades educacionais que já existiam estão sendo aprofundadas. O estado tem obrigação de combater e diminuir essas desigualdades. Esses problemas mostram uma falha nesse discurso ‘gestor’ em que é importante fazer e fazer“, disse.

Proposições

a) Transpor o calendário de 2020/1 para o segundo semestre deste ano e suspender o ingresso no meio do ano, bem como adiar o ENEM para 2021.

b) Reorganizar o calendário letivo não havendo qualquer substituição de atividades desenvolvidas por EaD ou ensino remoto para integralização da carga horária dos diversos níveis e modalidades.

c) As atividades mediadas por tecnologias devem ser democratizadas: acesso livre à internet de qualidade para todos estudantes.

d) Democratizar acesso aos meios tecnológicos que possibilitam interações criativas na internet.

e) Liberação gratuita de espaços de encontros virtuais nas escolas, redes, objetivando promover debates sobre as crises em curso e o papel da educação.

f) Estruturar nas universidades públicas, institutos federais, CEFET e movimentos sociais plataformas comuns para filmes, acesso orientado a museus, artes plásticas, divulgação científica, tecnologias, entre outros, abertos e em interação com as escolas, como novas sínteses para integração da educação básica, tecnológica e universitária.

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