Aberta a temporada de pressão pela volta presencial

Por sindoif

Editoriais da grande mídia, protocolos de retorno de governos estaduais e municipais, pressões de empresários da educação, interesse do capital em ‘recolocar’ a economia em funcionamento – veja o que está por trás da temporada de pressão pela volta às aulas presenciais.

Está cada vez mais forte, em todo país, o discurso em favor da ‘volta às aulas presenciais’ na educação básica. Sabemos que o retorno do ensino básico será o primeiro passo para forçar o retorno às aulas em todo o sistema educacional. 

Vivemos em um país onde o distanciamento social é prática de poucos, com praias e shoppings lotados. Um cenário que indica que a dor da perda deve ser apenas de quem lhe toca sofrer, ou seja, de parentes, amigos e conhecidos dos que morreram (ou vão morrer) na pandemia.

Diante da banalização da vida o Brasil segue o ritmo imposto pelo governo da morte, tendo à frente Jair Bolsonaro. Mas não apenas ele. No ES, por exemplo, o governo do estado banaliza ao extremo a perda de vidas dentro de uma escola, sugerindo em seu protocolo de retorno presencial que as escolas organizem “ritos de despedida” quando houver óbito de estudante ou de profissional escolar. Veja o que está expresso na pg. 65 do PLANO DE RETORNO do ES.

O editorial da Folha de São Paulo de 9 de setembro, intitulado “Volta às aulas” (leia aqui), também aponta no sentido da volta imediata do ensino presencial, em especial nas escolas públicas. Em determinado ponto, o referido editorial argumenta que o distanciamento do ambiente escolar presencial contribui para “a evasão escolar e a desnutrição de estudantes que dependem da merenda, carecem de meios para acompanhar ensino à distância e são mais vulneráveis à violência doméstica“. Desnecessário dizer que trata-se da mesma empresa jornalística que defendeu, tempos atrás, a aprovação da emenda constitucional (EC) nº 95/2016, que congelou os investimentos na educação pública por 20 anos. O que será que mudou para a FSP defender a escola pública com argumentos tão potentes? Reconhecendo que existem estudantes que carecem de meios para acompanhar o ensino remoto? E que o ambiente escolar presencial ajuda a combater a desnutrição e a violência doméstica?  

Vivemos uma época de crise do capital que foi agudizada pela pandemia, desacelerando a economia mundial. Fundamental registrar a importância do retorno à ‘normalidade’, o mais rápido possível na visão dos defensores do atual sistema atual sistema, como forma de construir uma saída emergencial para a crise econômica e minimizar riscos de caos social.

No mesmo data em que a FSP defendeu o retorno presencial de aulas no ensino básico, foi divulgada a suspensão dos testes da vacina de Oxford por conta da identificação de efeitos adversos. Cabe lembrar que governo brasileiro era parceiro no processo de desenvolvimento desta vacina e, agora, terá que renegociar parcerias. Os estudos mais avançados de vacina para a Covid-19 são de origem chinesa, russa e cubana, em diferentes estágios. Inegável reconhecer as dificuldades colocada para nosso país pela política externa e interna de Bolsonaro

O governo segue atacando os direitos da classe trabalhadora, propondo corte de salários de trabalhadores formais, redução pela metade no valor do auxílio emergencial, redução nas bolsas de pesquisa e pós-graduação – como forma de enfraquecer a ciência em um momento crucial de combate à pandemia, ataque ao serviço público através da proposta de retorno ao clientelismo e compadrio nas indicações de servidores, dentre outras ações. Por outro lado, aprova isenção para igrejas e saca os recursos das reservas do país para financiar o pagamento da dívida, beneficiando o sistema financeiro. 

Na direção oposta, precisamos continuar defendendo o isolamento social, exigindo a manutenção dos empregos, a proibição das demissões, a política de renda mínima. Defender que funcionem apenas os setores essenciais, cobrando o cumprimento de todos os procedimentos necessários à proteção da saúde e da vida de quem trabalha.

A solução não é o retorno às aulas presenciais em um ambiente que potencializa a transmissão do vírus e sem perspectiva de testagem em massa nem vacinação da comunidade escolar.

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